A Orthodox Presbyterian Church e o Culto

Nos meios evangélicos, pastores, e mesmo leigos, vêm dando grande atenção ao culto:[1]

– As congregações devem cantar louvores  (com retroprojetores e violões) ou os corais  (completos com beca e órgão de tubos) devem cantar grandes peças de música  sacra?

– Os cultos devem se atualizar para  serem mais acessíveis aos de fora, ou  devem manter-se nos moldes tradicionais,  ainda que desconcertantes para os  visitantes?

– O pastor deve ser o único líder  do culto, ou os leigos podem também  participar da liderança mediante orações e  músicas?

– Numa cultura que acha  enfadonho os oradores, deveria o sermão de 30 minutos continuar a ser o elemento  central do culto ou deveriam as  congregações ser mais abertas a outras  formas de comunicação menos verbais, tais  como dança e teatro?

Essas são questões  que atormentam não apenas evangélicos,  mas também congregações presbiterianas e  reformadas na América do Norte, bem como no mundo todo.

Alguns conservadores, frustrados pelo que percebem, como a superficialidade e o vazio de muitos cultos contemporâneos, abandonaram as congregações evangélicas e reformadas partindo para a Igreja Episcopal, bem como para a Igreja Ortodoxa Oriental. Essas pessoas estão saturadas com cultos que, de acordo com a crítica, são práticas “personalizadas, improvisadas e subjetivas”. Não se pode chegar a um consenso quanto ao que seja culto. “Seria tocar um tamborim, participar de evangelismo, a oração, os cânticos, falar em línguas – o que?”

O curioso nos debates contemporâneos sobre culto é que o caminho para Canterbury, Roma e Constantinopla jamais passa por Genebra. O culto reformado nunca acolheu o subjetivismo,  individualismo ou vulgaridades. Evelyn Underwood, no seu livro, Worship (1937), descreveu o culto de Calvino como um “austero-puritanismo” que “se concentrava totalmente no Deus Eterno, na Sua Majestade Invisível” e “que possuía em si mesmo esplendor e valor espiritual”. O culto reformado, continua Underwood, era “um poderoso corretivo da devoção humanística, dirigido aos homens, à sua pobreza, dependência e compromissos”. Que grato remédio para o espírito terapeuta, antropocêntrico, que caracteriza tantos cultos hoje! Então, por que estão os críticos dos cultos evangélicos desempoeirando os exemplares das Ordenanças Eclesiásticas de Calvino e o Saltério de Genebra?

A descrição de Underwood sobre o culto de Calvino sugere indícios para uma resposta:

Não eram permitidos órgãos nem coro nas suas igrejas: não havia cores, nem ornamentos, senão uma tábua dos Dez Mandamentos na parede. Não eram permitidos nenhum ato cerimonial ou gestos. Não se cantavam hinos, além dos que fossem extraídos da Bíblia.

Aquelas pessoas procurando liturgia, sublimidade e admiração, acharam poucos atrativos no culto reformado. A tradição reformada desvestiu o culto, e os críticos argumentam negando os elementos humanísticos do culto, e assim os presbiterianos ficaram sem liturgia, sem ritual, bem como sem nenhum espaço para a presença sacramental no culto.

Ainda essa crítica do culto reformado (a qual muitos calvinistas apoiaram provavelmente) confunde a liturgia e sacramento. Afinal, toda igreja tem uma liturgia, quer seus membros considerem-na litúrgica ou não. Liturgia é meramente a forma e a ordem do culto. Tanto as mais altas missas anglo-católicas como a mais humilde cerimônia evangélica de “louvor e culto” são litúrgicas no sentido mais amplo da palavra. Obviamente, elas diferem dramaticamente na liturgia. Mas ambas incorporam a forma e a ordem de culto. Até mesmo Underwood, que criticava Calvino, reconheceu o caráter litúrgico do culto reformado: “o interior sombrio da verdadeira igreja calvinista é em si mesmo sacramental: um testemunho da inadequação do humano frente ao Divino.

Então, de uma perspectiva diferente, o culto reformado surge como uma das mais altas formas de culto. Calvino esforçou-se para fazer cada aspecto do culto, desde o projeto do interior do templo até o modo da canção, harmonizar-se com o caráter e graça de Deus que se revelou em Cristo e nas Escrituras. De fato, a teologia de Calvino e a sua interpretação de culto parecem completar e reforçar-se reciprocamente tão bem, que nos maravilhamos como o povo na Igreja Reformada poderia manter a teologia calvinista sem também abraçar entusiasticamente os elementos do culto reformado como praticado nos séculos 16 e 17.

 

Calvino e o culto

Um dos lemas de Calvino foi a importância e centralidade do culto para a verdadeira fé cristã. De fato. Calvino colocou o culto antes da salvação na sua lista das duas mais importantes facetas da religião bíblica. A religião cristã mantém sua veracidade, ele escreveu, pelo “conhecimento, primeiramente, do modo pelo qual Deus é corretamente adorado, e em segundo lugar, da fonte da qual se obtém a salvação”. Calvino também observou que a primeira Tábua da Lei – os primeiros 4 mandamentos – todos relacionavam-se com o culto em forma direta, fazendo assim o culto “o primeiro fundamento da justiça”.

A proeminência do culto levou Calvino à formulação do princípio regulador, um dos símbolos da tradição reformada. Esse princípio ensina que o culto público é governado pela revelação de Deus em sua santa palavra; sejam quais forem os elementos incorporados no culto coletivo, devem ser diretamente comandados por Deus nas Escrituras. O fato de uma congregação ter sempre cultuado de uma certa maneira. ou que uma determinada prática origine de devoção sincera  razões suficientes para determinar ordem do serviço de culto. De acordo com Calvino, Deus não só considera infrutífero, mas também abomina totalmente” tudo o que não está de acordo com a sua vontade. “As palavras de Deus são claras e distintas”, Calvino escreveu: “a obediência é melhor que o sacrifício”. Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.” (1 Sm 15:22; Mt 15:9).

Não foi apenas o desejo de obedecer a Deus que levou Calvino a conceber o princípio regulador, mas tão importante foi também a concepção que os reformadores tinham da depravação humana. O principal efeito da transgressão de Adão era tornar todas as pessoas idólatras. Todos os indivíduos, Calvino acreditava, mesmo depois da queda, possuíam uma semente de religiosidade, ou uma ideia de Deus em suas almas. Contudo, após a queda, este senso de religiosidade não os levou mais ao verdadeiro Deus, mas, ao invés disso, forçou homens e mulheres a criarem seus próprios deuses, de acordo com seus egoísmo e vaidades. A tentação da idolatria fez com que os cristãos ficassem sempre vigilantes em regular seus cultos pelos comandos diretos de Deus nas Escrituras. Essa tentação fez Calvino especialmente suspeito de práticas de culta que se diziam agradáveis ou atrativas aos membros da congregação. Ele diz que quanto mais uma prática “delicia a natureza humana, mais deve ser suspeita pelos crentes”.

A teologia de culto de Calvino exigiu reformas das práticas do catolicismo romano, que ele encontrou em Genebra. Porém, a necessidade de reforma não significava o abandono da liturgia, nem, a eliminação de todos os elementos do culto católico. Os reformadores se purificaram e transformaram o conteúdo teológico e espiritual do culto cristão. Porém eles não criaram do nada uma nova ordem de culto. Ao invés disso, eles alteraram os elementos do culto para conformar-se com a teologia da Reforma. A liturgia calvinista em Genebra, por exemplo, demonstra continuidade do passado, refletindo também mudanças derivadas de novas concepções da revelação de Deus. A ordem do culto era basicamente assim:

Embora Calvino seguisse um padrão em seus cultos, ele não acreditava que fosse possível prescrever todos os elementos do culto. Ele constatou que havia assuntos acidentais que a Escritura não salientava.

Em tais assuntos as igrejas tinham a liberdade, de acordo com a Bíblia, de implementar práticas que honrassem a Deus e edificassem seu povo. Enquanto o – princípio regulador ensina que uma determinada prática deve ser dirigida pela Palavra de Deus, garante também liberdade nas áreas onde as Escrituras não eram explícitas.

 

Manual de culto público da Assembleia de Westminster

Embora Calvino e outros reformadores hesitassem em prescrever uma liturgia específica para todas as igrejas, espalhadas pela Europa Oriental desde o século XVI até meados do século XVIII, havia um notável acordo entre as comunidades presbiterianas e reformadas quanto à natureza e conduta do culto. O Manual reflete o consenso geral, e é instrutivo para entender as práticas de culto da Orthodox Presbyterian Church.

A Assembleia, que se reuniu de 1643 a 1648, é melhor conhecida pela Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior e Breve, documentos que constituem os padrões doutrinários da Orthodox Presbyterian Church. Ainda, a Assembleia foi incumbida de reformar todos os aspectos da Igreja na Grã-Bretanha, e assim, em consequência, produziu dois documentos de relevância direta para o culto: um guia para o culto público, congregacional e um saltério.

Uma coisa que se sobressai sobre o Manual para o culto público é a falta de uma ordem prescrita de culto. Três grupos reuniram-se na Assembleia: os presbiterianos ingleses, os presbiterianos escoceses e os independentes. Os dois primeiros grupos contribuíram com a ordem litúrgica e um livro de orações. A base do culto para ambos, escoceses e ingleses. era o Livro Escocês de Ordem Comum, baseado na liturgia de John Knox, bem como em uma edição “reformada” do Livro Anglicano de oração baseado na Liturgia Genebrina de Calvino. Os independentes, entretanto, se opuseram ao uso de qualquer tipo de livro de oração ou liturgia. Para apaziguar os independentes, a Assembleia decidiu não incluir orações escritas. Neste sentido, o Manual de Westminster marcou o final da tradição de culto de louvor formal da liturgia Presbiteriana anqlo-americana, a diversidade resultante do culto e falta de coesão entre presbiterianos americanos levanta a questão se a morte do culto litúrgico foi uma bênção ou maldição. No entanto, o Manual do Culto Público levou  adiante muitas das práticas distintas e  convicções de Calvino relacionadas ao culto. E a ordem do culto que a  Assembleia recomenda traz uma  impressionante semelhança com as  primeiras liturgias reformadas. Consistia de:

Além disso, o Manual recomenda aos crentes virem à igreja “não irreverentemente, mas de uma maneira solene e com decoro”. Conserva também uma elevada visão quanto ao papel do educador (ou pastor), estipulando ainda que a leitura da Bíblia deve ser feita apenas por pastores ou professores. Os teólogos de Westminster ainda seguiram os reformadores em restaurar a pregação a um grau de destaque no culto público. Distinto das liturgias de Calvino e Knox, o Manual não estipula formas de oração, por isso era realmente um manual, deixando a questão da oração nas mãos do pastor local. E, finalmente. o Manual conclui com a exortação aos crentes que cantem salmos em público ou individualmente, como “o ritual mais apropriado para expressar alegria e gratidão a Deus”.

As diretrizes do culto elaboradas pelas igrejas reformadas, desde Calvino até a Assembleia de Westminster, sugerem vários princípios que devem orientar o culto.

1)  A centralidade da Palavra de Deus. A Palavra de Deus não apenas dirige a forma, ou a maneira do culto, mas também compreende o conteúdo do louvor. O conteúdo do culto é lido, cantado, visto (a Santa Ceia) e pregado. A centralidade da Palavra de Deus e, especialmente, evidente na ênfase reformada sobre a pregação. Em contraste com o culto católico romano, onde o foco é a missa, e o altar é evidenciado pela arquitetura, os reformadores fizeram da pregação a parte central do culto e colocaram o púlpito na frente e no centro  do santuário.

2)  A teocentricidade do culto. Muito relacionado ao primeiro princípio: o culto é teocêntrico, e seu objetivo deve ser a glória de Deus. É a forma mais elevada de comunhão entre Deus e seu povo, e deve ser feito em espírito e em verdade. De fato, não há nada que Deus mais deteste que a falsa adoração. A adoração é absolutamente necessária à fé e prática cristãs, porque Deus assim ordena e de tal maneira nos constituiu, que o culto é essencial para o fortalecimento de nossa vida espiritual.

3)  O caráter dialogal do culto reformado.  O culto em conjunto ou   público é o encontro de Deus com seu   povo. Crentes vêm a seu convite e são bem vindos à sua presença. Deus fala através da invocação. da leitura da Palavra, do sermão e a da bênção. Os fiéis respondem com cânticos, oração e confissão de fé.

4) A simplicidade do culto. A revelação mais completa de Deus em Cristo na nova aliança significa que os    cristãos não são dependentes dos elementos imaturos e carnais do velho. Por causa da obra de Cristo, os    crentes já se assentam com ele em glória e este aspecto da obra de Cristo diminui consideravelmente a necessidade da igreja    por apoio visível ou material para a adoração. A simplicidade em adorar, portanto, está estreitamente relacionada com espiritualidade. Na nova aliança Deus está mais completamente presente com seu povo. Mas esta presença é espiritual, não física. A ordem de Cristo que seus seguidores o adorem em espírito e em verdade está de acordo com o novo pacto entre Deus e seu povo.

5)  A reverência. De acordo com  Calvino a “religião pura e verdadeira” é manifestada através de uma fé tão ligada a um fervoroso temor de Deus, de modo que  esse temor também envolva espontânea reverência. O culto deve ser majestoso e reverente, mas ele não alcança estes predicados através de requintadas cerimônias ou complexas liturgias. De fato, Calvino acreditava que “onde há grande ostentação cerimonial, não há sinceridade de coração”. Isso não quer dizer que no culto não haja espaço para alegria ou emoção como alguns críticos do culto reformado têm imputado. Alegria, ao lado de uma série de emoções, como por exemplo pesar, ira, desejo, esperança e medo – devem ser uma parte do culto. Mas a necessidade de reverência e decoro requer que qualquer expressão de emoção no culto deve ser temperada com moderação e autocontrole. Para assegurar que cada aspecto do culto seja feito decentemente e em boa ordem, a tradição Reformada tem insistido que cada parte do culto seja supervisionado pelos diáconos, que têm a responsabilidade do culto público, e que o pastor, que fala por parte de Deus e pelo povo de Deus, lidere e dirija o culto.

 

A expansão americana

A maior mudança no culto reformado que ocorreu no século 18 foi a introdução dos hinos em lugar dos Salmos. Seguros de que os grandes hinos de Isaac Watts e Charles Wesley eram paráfrases dos Salmos, a maioria dos presbiterianos continuaram a cantar salmos além dos hinos. Mas a prática de exclusiva salmodia começou a se  desvanecer na era dos reavivamentos do Primeiro Grande Despertamento. Por outro lado, a ordem do culto na maioria das igrejas presbiterianas seguia os padrões estabelecidos por Calvino, Knox e pela assembleia de Westminster.

No calor da controvérsia em torno dos avivamentos do Segundo Grande Despertamento, quando os presbiterianos americanos se dividiram em Nova e Velha Escola, mais mudanças surgiram no culto. A Velha Escola, em oposição à teologia Arminiana dos avivalistas, optou pelas práticas puritanas no culto. Para eles, cada elemento no culto tinha que ter respaldo bíblico (Princípio Regulador), e o culto deveria ser caracterizado por decoro e solenidade, adoração para a Velha Escola era um ato que os cristãos dirigiam-se a Deus. Em contraste, a Nova Escola promovia os reavivamentos, salientavam o culto como meio de conversão do perdido. Consequentemente, o critério para o culto  na Nova Escola tornou-se a eficácia evangelística. Como resultado, os cultos de louvor começaram a parecer mais reuniões de reavivamento. Da perspectiva da Nova Escola, o culto da Velha Escola era muito intimidante para os não cristãos.

No fim do século 19 as práticas da Nova Escola foram abandonadas pela maioria dos presbiterianos, mas isso não significou o triunfo da Velha Escola. Enquanto o culto presbiteriano tendia a ser mais formal, sua formalidade refletia mais os gostos estéticos da classe média alta do que a simplicidade e reverência que tinham caracterizado os cultos puritanos e da Velha Escola. Os corais cantavam e os órgãos tocavam música refinada, mas a introdução dos corais e instrumentos musicais no culto eram, em si mesmo, sinais de um claro afastamento da teologia da adoração defendida pelos reformadores.

 

A prática da Orthodox Presbyterian Church

Quando a Orthodox Presbyterian Church, as tendências da igreja com relação ao culto estavam claramente voltados para Calvino, para os Puritanos, e para o presbiterianismo da Velha Escola. Depois de todas essas razões para romper com a igreja tronco foram exatamente aquelas que tiveram uma influência maior e imediata no culto, a saber, o principio regulativo e teologia teocêntrica. A igreja matriz tinha substituído a Palavra de Deus pelas ideias humanas e adaptaram sua mensagem para ganhar a aprovação da cultura corrente, em vez de fielmente buscar honrar e glorificar a Deus.

O Manual que a 6ª (1939) Assembleia Geral que a Orthodox Presbyterian Church adotou, refletia a adesão da nova igreja à teologia dos Padrões de Westminster. Como a Assembleia de Westminster, o Manual da Igreja Presbiteriana não continha provisões para cultos de funeral ou casamento ou visitação aos enfermos. Um certo número de noções perniciosas tinha envolvido doenças, mortes e casamentos no catolicismo romano e os reformadores procuraram expurgar esses elementos das práticas eclesiásticas com base no Principio Regulador. A igreja-tronco Presbiteriana havia reintroduzido algumas dessas práticas em seu Manual, mas a OPC retornou à posição dos reformadores. Em contraste com o manual da igreja-tronco, que malogrou em incluir uma teologia de culto, a OPC proporcionou um proveitoso capítulo sobre os princípios para o culto público. Esses princípios repetem os critérios da tradição reformada – o princípio regulador, a glória de Deus como alvo do culto, adoração como uma expressão de fé em e amor por Cristo, o solene e reconhecido caráter do culto, e culto como uma atividade para a comunidade do pacto. Ademais, como os teólogos de Westminster, o comitê que produziu o manual da OPC repetiu a prática de incluir piedosos conselhos de como os crentes deveriam santificar o Dia do Senhor, ou Sábado Cristão, assim ratificando a tradição presbiteriana anglo-americana ao Dia de Descanso. Outros capítulos – havia apenas 6 ao todo – cobriam os outros elementos do culto reformado: as partes do culto de louvor, a celebração dos sacramentos, pública confissão de fé, e a ordenação e instalação de oficiais da igreja.

Uma das partes do culto público à qual o Manual da Orthodox Presbyterian Church deu atenção foi o cântico congregacional. Como no caso dos materiais de educação cristã, a nova igreja encontrou-se sem o recurso de um bom hinário ou saltério. Em 1933 a igreja presbiteriana publicou um novo hinário ao qual conservadores, J. Gresham Machen dentre eles, se opuseram por causa da teologia liberal refletida nas alterações dos hinos mais antigos e nos novos hinos que foram acrescentados. Nos inícios de 1943, a Orthodox Presbyterian Church designou um comitê para planejar a confecção de um hinário. Outro comitê apresentou-se à igreja em 1947 com um parecer sobre cântico em culto público. Em 1949 a Assembleia Geral criou um comitê responsável pela produção de um hinário. Como Edward I. Young participou, a Orthodox Presbyterian Church não entrou nessa tarefa com leviandade.

O parecer de 1947 da comissão encarregada de estudar o uso de cântico em culto público mereceu alguma atenção. O parecer majoritário que mereceu a aprovação da Assembleia Geral em 1947 proporcionou os princípios para cânticos de hinos. Mas as diferenças entre os pareceres majoritários e minoritários merecem ser tratadas resumidamente, visto que revela como as intenções da OPC em seguir o conceito reformado de culto estava comprometido pelos hábitos e costumes americanos. O parecer sobre cântico começou segundo um bom estilo reformado com uma franca e exaustiva discussão do principio regulador. Enquanto o conceito do Manual da Assembleia de Westminster sobre o princípio regulador especificava que os salmos metrificados fossem a única expressão do cântico congregacional, o parecer resistia em seguir na direção da salmodia exclusiva. A Bíblia permitia o “uso da liberdade no que se refere ao conteúdo do culto”. Isso era especialmente verdadeiro no caso da órgão. E como oração e música eram caminhos análogos para dirigir-se a Deus no culto público, e por causa do uso dos hinos dos crentes do Novo Testamento, a maioria da comissão concluiu que cânticos teocêntricos fossem acrescidos dos Salmos e usados pelas congregações da Orthodox Presbyterian Church nos cultos.

O parecer da minoria, escrito por John Murray e William Young embora falhasse em ganhar a aprovação da Assembleia Geral, preconizava o uso exclusivo dos Salmos. Argumentou que a analogia entre canto e oração mencionada pela maioria dos relatórios era inválida; mencionou também que no Novo Testamento as igrejas primitivas faziam uso de versos dos Salmos, e naqueles casos onde a igreja talvez não tivesse cantado Salmos do Novo Testamento, eles sempre cantaram versos inspirados. A conclusão que Murray e Young tiraram foi que a Bíblia só autorizava o cântico de “canções inspiradas”, uma conclusão que limitava o cântico congregacional dos Salmos e cânticos das Escrituras (por exemplo os cânticos de Miriam, Ana, Maria, Zacarias e Simeão).

O “Hymnal Trinity” que a Orthodox Presbyterian Church publicou em 1961 é tanto um monumento às sensibilidades dela, como também reflete, como a minoria dos relatórios de Murray e Young advertia, um acordo parcial de compromisso da denominação com o culto reformado. O hinário refletia os compromissos em encontrar hinos que fossem Escriturais, e, portanto, teologicamente sãos, e que também fossem possíveis de ser cantados. Foi arranjado em 4 títulos principais: Deus, A Igreja, A Vida Cristã e os Hinos Ocasionais – e o assunto em questão segue a ordem dos tópicos cobertos na Confissão de Fé de Westminster. Separando seções para os hinos das crianças e para músicas para ocasiões informais, o ‘Trinity Hymnal” também manifestou o ensino reformado de que o culto deve ser digno e solene. Enquanto alguns hinos podem ser úteis para a Escola Dominical, o encontro dos jovens, ou cultos evangelísticos, essas mesmas músicas não são apropriadas para o culto coletivo. Ainda, mesmo admitindo-se o valor substancial do hinário, impressiona-se pela falta de salmos metrificados. Para ser mais exato, muitos dos hinos são baseados em passagens e versos dos Salmos. Mas desde que o Manual da Orthodox Presbyterian Church para o culto aconselhava que as versões métricas dos Salmos “fossem usadas frequentemente em culto público”, o hinário Trinity  pode ser falho em facilitar a recuperação do salmo cantado que tinha sido uma realização tão proeminente do culto reformado. Aqui a Orthodox Presbyterian Church parecia seguir a prática do presbiterianismo americano que introduziu o hino cantado no culto, muito mais cedo que os presbiterianos escoceses e as igrejas reformadas na Europa.

 

O impulso revisionista

Os padrões e ideias sobre louvor nos primeiros 40  anos da história da Orthodox Presbyterian Church foram, sem dúvida, razoavelmente uniformes e reconhecidamente reformados, ao menos pelos padrões norte-americanos. Mas nos últimos 25 anos foram iniciados esforços para mudarem as práticas de culto da denominação. Através dos anos 80 o Comitê de Revisões do Livro de Disciplina da Orthodox Presbyterian Church e o Manual de Culto Público esboçaram novos capítulos para o Manual de Culto. E com a PCA, através da atuação das Publicações da Grande Comissão, a Orthodox Presbyterian Church revisou o Trinity Hymnal, um processo que foi completado em 1990 com a publicação do novo Trinity Hymnal. Enquanto as mudanças propostas no Manual do culto e no novo hinário continuassem a ser informadas por sadios critérios bíblicos reformados, e refletissem o persistente compromisso da Orthodox Presbyterian Church com as formas tradicionais presbiterianas de culto, o processo de revisão também produz descontentamento dentro da denominação quanto à adoração. Esse descontentamento foi provavelmente melhor resumido pelo relatório da 5a Assembleia Geral (1989) sobre o Manual para Culto Público: Há uma insatisfação generalizada, ou, no mínimo difundida falta de uso do presente Manual na Igreja Presbiteriana Ortodoxa. Existem partes dele que são de tal forma antiquadas (por exemplo, “o ritmo pomposo do coral”) que deve haver uma revisão exaustiva. Ainda não há um consenso sobre a direção que a igreja deseja seguir sobre o culto. A situação atual na igreja com relação ao culto é diferente da semi-anarquia litúrgica de outros que acham que cantar músicas não inspiradas é uma violação do princípio regulador.

Como estas questões surgiram alguns podem apontar os novos critérios bíblicos que mostram o velho Manual e sua teologia estarem mais presos a uma forma específica de expressão cultural do que ao ensino da Palavra de Deus. Outros citam o pequeno crescimento da Orthodox Presbyterian Church e a inabilidade da igreja em reter seus jovens membros, fatos que demandam que o culto se torne relevante e livre dos padrões velhos e meramente humanos de adoração. Enquanto outros ainda vêem o descontentamento e mudanças no culto como clara indicação da decadência da teologia reformada de adoração.

Não há dúvida que muitas mudanças de pensamento sobre culto nos últimos 25 anos originaram-se de transformações significativas dentro da cultura americana. Velhas maneiras de culto não mais parecem plausíveis; parecem ser ineficazes e, acima de tudo, cansativos. O ministério efetivo da igreja, alguns sustentam, requer que se atualize nos seus esforços para contextualizar o evangelho e fazê-lo compreensível à cultura contemporânea. E se eficácia significa abandonar uma maneira de culto que data dos anos 30, então que seja. Desde que o conteúdo do culto seja saudável, a forma realmente não importa. Assim, as mudanças no culto são meramente alterações de formas, deixando o estilo dos anos 30 para a forma dos anos 90.

É, no mínimo, irônico dizer que os crentes possam ser tão pouco exigentes quanto às expressões culturais contemporâneas – e portanto pensam que o estilo dos anos 90 seja adequado ao culto – quando os mesmos crentes estão tão alarmados pela maldade dessa era. (É também notável como os calvinistas que insistem que tudo seja feito para a glória de Deus tão amiúde julgam o culto nas bases de se estar agradando a homens, mulheres e crianças). A maioria dos cristãos costumam concordar que o povo de Deus enfrenta tempos difíceis. A igreja está dominada por política injusta de governo, pelo relativismo moral dos currículos da escola pública, e pela decadência dos meios de comunicação. Ainda, alguns parecem reconhecer os mais sutis perigos descritos da cultura americana. Uma das mais traiçoeiras e sutis influências sobre a igreja vêm dos meios de comunicação e do entretenimento. Pastores, às vezes, pregam sobre os perigos abertos de Hollywood, alertando sobre sexo, violência, e desrespeito pela religião em muitos filmes, shows de TV e canções populares. Um perigo ainda maior, contudo, é a forma pela qual a cultura popular alterou atitudes em relação à adoração.

A cultura popular tem patrocinado significativa mudança de conceitos a respeito do culto público. Desde que pessoas se reinem agora mais frequentemente para alguma forma de entretenimento, os cristãos cada vez mais exibem uma vontade de passar seu tempo juntos coletivamente da mesma forma que consideram formas públicas de distrações. O culto torna-se algo que o pastor, coro, organista e outros músicos executam para Congregação. (O gosto pela cultura popular apagou a convicção de que o objeto da adoração não é a congregação, mas Deus. Mais alarmante ainda é a maneira em que a cultura popular tem alimentado um caráter de informalidade, rompendo as diferenças entre o solene e o desrespeitoso. O Manual da Orthodox Presbyterian Church para o culto parece antiquado – a frase, “o majestoso ritmo do coral” não faz sentido porque nossa cultura despreza cada vez mais, ou, não faz caso do que é nobre e majestoso. O que faz as formas de culto contemporâneas ou populares questionáveis, de uma perspectiva reformada, não é falta de cultura, embora as orações, louvor e música do culto de hoje sejam. muitas vezes, triviais. Os crentes podem louvar a Deus quer eles apreciem ou não uma sonata de Mozart ou uma escultura de Michelangelo. Melhor, o problema de muitos cultos contemporâneos e sue não reconhecem a visão do Calvinismo, isto é, que as pessoas, incluindo os cristãos, são constantemente tentados a moldar Deus à sua própria imagem. E muitas das inovações hoje no culto conduzem a um conceito errado de Deus.

Uma teologia reformada de culto sempre manifestou a convicção de que, quando os crentes se reúnem no Dia do Senhor, suas práticas devem refletir humildade e reverência. Além do mais, os cristãos em adoração vêm perante aquele que é santo e transcendente, que é o justo do universo, a quem homens e mulheres ofendem diariamente, e que maravilhosamente providenciou um meio de salvação através de seu filho, Jesus Cristo. O culto deveria ser um alerta para o abismo entre Deus e pecadores, e do que Ele tem feito para vencer aquele abismo, para que os crentes não incorram em um falso entendimento de Deus.

O culto, então, não é algo feito superficialmente ou sem seria consideração. No culto os crentes professam e honram o caráter de Deus, em cuja presença eles entram, e quem os tirou de um estado de pecado e miséria. O culto sempre reflete a concepção que as pessoas têm de Deus. A verdadeira teologia produz um culto verdadeiro e aceitável. A teologia imprópria ou errônea produz falsa adoração. Culto não é uma questão de gosto: é uma declaração de convicção teológica.

Em vez de seguir os impulsos liberacionistas e irreverentes da cultura americana, a Orthodox Presbyterian Church precisa recuperar, na sua teologia e prática de culto, o que fala o Salmo 2:11, quando diz “alegrai-vos com tremor”. O louvor recomendado e praticado por Calvino, Knox e os teólogos de Westminster, presbiterianos da Velha Escola, e a geração fundadora da Orthodox Presbyterian Church refletia uma combinação reverente de alegria e temor. E aquela velha maneira de culto era sempre mantida sob controle no sentido de que qualquer demonstração de impertinência e desrespeito ofenderia a Deus.

Mas expressões culturais contemporâneas raramente possuem qualquer sentido da magnitude e gravidade que cercam o encontro entre Deus e seu povo no culto. Realmente, as formas e estilo da cultura contemporânea não podem conter a dignidade e o respeito que devem caracterizar a postura externa e interna dos cristãos quando eles se aproximam do trono de Deus. Embora haja algum chamativo em pensar no culto, como entrar num bar onde Deus serve como garçom que tem sempre um ouvido pronto a ouvir o que nós temos a dizer, e um trapo para enxugar nossas lágrimas, o Deus revelado na Escritura é um rei que senta-se ereto sobre o trono de glória, atento às palavras, pensamentos e emoções de seus súditos quando eles se reúnem diante dele.

Não há versos melhores para caracterizar o culto reformado que Hebreus 12:28a29, que diz “por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque nosso Deus é fogo consumidor.” A Orthodox Presbyterian Church tem tentado acatar essa instrução. Pela graça de Deus continue a agir assim, não para o bem dos hinos favoritos, orações tradicionais, música alternativa, ou bancos de igreja abarrotados, mas antes, para a glória de Deus que é aquele fogo consumidor.

 

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  18. Various copies of articles on music and Trinity Hvmnal from Presbyterian Guardian
  19. John Muether, “Ortodox Presbyterians on the Road to Rome?” New Horizons (Oct. 1992), 7-9 – copy
  20. “Franky Schaeffer on… Why i became Orthodox,”Again (Dec.1991)
  21. Kenneth E. Hines, Why this Reformed Seminary took the Plunge to the Orthodox Faith,”—copy
  22. Paul E. Engle, Discovering the Fullness of Worship (Philadelphia: GCP, 1978)

 

[1] Documento Oficial da Orthodox Presbyterian Church.

Traduzido por Sonedi H. Evangelista.

Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki

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